Artigo-Doutrina Social

Jesus convida a vencer tentação da violência pela misericórdia, frisa padre

Padre destaca que os cristãos são convidados a contemplar as atitudes de Jesus diante das situações de violência

Padre Antônio Aparecido Alves*

Jesus, o Príncipe da Paz

O Texto-base da Campanha da Fraternidade deste ano, ao julgar as situações da violência, nos apresenta o projeto de Deus para a humanidade. Ele criou o ser humano para viver em comunhão com Ele, com os outros, com a criação e consigo mesmo. A violência entrou no mundo como fruto do pecado, quando um irmão matou o irmão, como na história de Caim e Abel (Gn 4,1-16). É curioso que quando Deus pergunta por Abel, seu irmão Caim responde: “Acaso sou eu guarda do meu irmão?” (Gn 4,9). O lema da Campanha da Fraternidade vem exatamente afirmar: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8) e, por isso, devemos sim nos respeitar, guardar e cuidar uns dos outros.

A tentação da violência

Como cristãos, somos convidados a contemplar as atitudes de Jesus diante das situações de violência. Como sabemos, Ele a recriminou terminantemente, impediu seus discípulos de usarem a espada e não solicitou que legiões de anjos descessem dos céus para combater em seu favor, vencendo, assim, a tentação da violência. Mais que isso, mandou aos seus seguidores que não se resistissem aos violentos, oferecendo-lhes a outra face se lhes batessem em uma delas, corrigiu os preceitos da Lei ao afirmar que matar alguém não é somente lhe tirar a vida, mas que pode se fazer isto quando se trata o outro com grosseria, falta de educação ou antipatia, pois a língua pode ser uma arma tão mortal quanto qualquer outra (Mt 5,20-22). Aliás, a Campanha da Fraternidade deste ano fala da violência física, mas também da verbal (xingamento, bate-boca, palavrões etc) e moral (humilhação, fofocas etc). Jesus ensina, então, que buscar a reconciliação é mais importante que levar a oferta para o altar, pois a quebra da fraternidade é sempre um mal e deve ser evitada a todo custo (Mt 5,23-26).

Não ficar no nível dos violentos, mas se debruçar sobre as vítimas

Na parábola do bom samaritano Jesus ensina que é preciso se debruçar sobre a pessoa que foi vítima da violência e dar-lhe toda assistência que for necessária, não ficando no nível do sacerdote e do levita que foram cuidar do culto no Templo e desprezaram o homem machucado na beira da estrada (Lc 10, 30-37). No episódio da mulher adúltera que estava para ser apedrejada Ele se abaixa, colocando-se no nível daquela que sofria a violência, saindo do nível dos violentos que estavam à sua volta com pedras nas mãos. Às vezes tem-se a tentação de ficar no nível dos violentos, ao dar-lhes a razão e condenar a vítima, com comentários do tipo “A mulher foi estuprada, mas também a maneira como elas se vestem hoje despertam o erotismo”, ou então, “Ele foi assassinado, mas o que estava fazendo naquela hora da noite na rua?”, ou ainda, “Aconteceu a chacina lá no bar, mas este não é ambiente para gente de bem”, dentre outros comentários.

Enfim, Jesus nos conclama a vencer a tentação da violência pela misericórdia, palavra tão repetida nas Sagradas Escrituras. É preciso reagir a ela, promovendo uma cultura onde justiça e paz se abracem. Pequenos gestos e mudanças de atitudes podem contribuir para isto. Ele proclama que seus discípulos serão reconhecidos como filhos e filhas de Deus quando promoverem a paz (Mt 5,9). Por isso os cristãos têm uma particular responsabilidade nesta questão. Se a paz fracassar no mundo, que não seja por nossa omissão.

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*Padre Antonio Aparecido Alves é Mestre em Ciências Sociais com especialização em Doutrina Social da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Teologia pela PUC-Rio. Professor na Faculdade Católica de São José dos Campos e Pároco na Paróquia São Benedito do Alto da Ponte em São José dos Campos (SP). Para conhecer mais sobre Doutrina Social visite o Blog: www.caminhosevidas.com.br

 

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