Previsão para a estação

Inverno segue média histórica e não será o mais frio dos últimos 100 anos

Inverno começa nesta quinta-feira, 21; climatologista explica o porquê de Inverno 2018 não ser previsto como o mais frio dos últimos 100 anos

Julia Beck
Da redação

As regiões Sul e Sudeste marcarão as menores temperaturas do país/ Foto: Yang -Istockphoto

“Não devemos ter temperaturas muito acima ou muito abaixo da média”. Foi a afirmação da climatologista Renata Tedeschi, do Grupo de Previsão Climática do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC-Inpe), para o inverno 2018 que começa nesta quinta-feira, 21. Segundo Renata, a informação de que o inverno deste ano seria o mais frio dos últimos cem anos é uma fake news. “Podemos ter um dia que tenha uma queda bruta de temperatura, mas não o inverno mais frio dos últimos cem anos”.

“Essa [fake news] começou a fazer um burburinho muito grande, de que seria o inverno mais frio. Quando estávamos no início do outono ela já estava sendo liberada. (…) Emitimos uma nota para dizer que não era verdade isso”, contou a climatologista.

De acordo com Renata, para 2018 não se espera dias tão frios como em 2013, quando chegou a nevar na região sul. A climatologista explica que para chegar a uma conclusão, como a divulgada pela fake news, é preciso realizar uma média dos 90 dias do inverno 2018, e o resultado desta média precisa ser menor que a média dos últimos cem anos.

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Além dos cálculos, Renata explica que outras coisas precisariam ser ignoradas para sustentar a afirmação da fake news. “Estamos em um processo de aquecimento global, não tínhamos nenhum padrão de grande escala, tinha o La Ninã, mas ela era de baixa intensidade, então de fato não tinha nada que indicasse que isso seria verdade”, afirmou.

O boato usou o fenômeno La Ninã como base para explicar a afirmação. De acordo com a climatologista o fenômeno contribui para a baixa de temperaturas, mas isso ocorre dependendo de sua força. “O La Niña acabou em maio, então lá no início do outono, em março, ela já estava muito fraca, então nós sabíamos que a tendência dela era não continuar muito grande”, explicou.

Outro fator ignorado pela fake news, e que Renata recorda, são os crescentes recordes de temperatura alcançados pelas estações. “Nós estamos batendo recordes de temperatura, ano após ano, então 2016 foi muito quente, 2017 foi muito quente. Lógico que 2018 pode ter um inverno mais frio do que 2017 e 2016, mas não que ele seja o mais frio dos últimos cem anos”. Segundo a climatologista, “notícias” como estas podem afetar de maneira psicológica a população.

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Além dos efeitos nocivos de uma maneira geral, a climatologista recordou que fake news ligadas ao clima podem afetar também a economia do país. “Empresas de vestuário podem produzir em maior escala na espera de uma alta nas vendas, tendo consecutivamente um prejuízo financeiro, e também os agricultores, que podem deixar de plantar em vista do ‘grande frio’, e na verdade perderem financeiramente por deixar de plantar”, alertou. No caso de notícias duvidosas, Renata aconselhou a população a sempre se pautar primeiramente pelas informações veiculadas diretamente pelo Inpe e por outros institutos de pesquisa.

Previsões para o Inverno 2018

O CPTEC-Inpe analisa o período do inverno como uma estação que compreende os meses inteiros de junho até agosto. Renata afirma que a última previsão realizado no final de maio concluiu que a temperatura média destes meses seguirá uma média histórica. A média histórica é obtida por meio do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Segundo a climatologista, o INMET usa estações que são confiáveis e que possuem um amplo histórico e fazem uma média para cada estação entre 1981 e 2002.

A média para o inverno deste ano, segundo dados disponibilizados pelo INMET, para as capitais dos principais estados das regiões sul, sudeste, centro-oeste, nordeste e norte acompanham variações próprias da localização das regiões no mapa. Para a região sudeste a média entre os meses de junho, julho e agosto é de 17,1º, na região sul a previsão média é de 14,8º, no norte a média histórica é de 27,1º, enquanto no nordeste e no centro-oeste a expectativa é que a temperatura alcance uma média de 23,9º.

“O norte e o nordeste do país tem baixa variação de temperatura por estar em uma região tropical, então não temos, por exemplo, um inverno frio, lá as menores temperaturas ocorrem conjuntamente com as estações chuvosas, então na época de mais chuva, que é a época que tem menos rotação polar chegando a superfície, é a época de menor temperatura, o que não quer dizer que seja fria. No sul e sudeste aí sim nós temos o verão com as maiores temperaturas, e o inverno com as menores temperaturas do ano”, comentou a climatologista.

Sobre as chuvas, Renata conta que algumas regiões seguirão características próprias locais e outras enfrentarão situações próprias da estação. No Sul, a climatologista recorda que as chuvas são constantes o ano todo, de forma que a região não tem uma estação seca, bem definida. Já no Centro-Oeste, Sudeste, no sul da região Norte e sul da região Nordeste o inverno faz parte da região seca da região. O extremo norte e leste do nordeste seguirá dentro da normalidade, mas com uma tendência de chuvas abaixo da média. Mesmo sendo dados incertos, a climatologista assegura: “Mesmo que chova acima da média em qualquer região do país, dificilmente choverá e causará um alagamento ou deslizamento de terra”.

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