Artigo

É possivel, nos dias de hoje, falar de Beleza?

Padre Anderson Marçal fala do sentido da beleza, refletindo se ela pode conduzir a Deus

Padre Anderson Marçal
Doutor em Teologia Pastoral Bíblico-Litúrgica

padre andersonFalar de beleza e vivê-la em nossa vida é bem mais que cultuar ou vislumbrar algo de bonito ou lindo. Reconhecer que algo nos agrada ao contemplar é só o primeiro momento de algo muito mais profundo e misterioso. Todo ser, toda criatura, tudo o que existe de belo à medida que alcança a perfeição de sua natureza ou dela se acerca. O belo sempre foi associado ao que é proporcional ou equilibrado. O belo sempre se manifestou nas culturas como estando coligado à luz ou claridade. O belo sempre foi expresso como esplendor do verdadeiro, realizando a síntese difícil entre verdade, bem e beleza.

Nosso desafio hoje é o de unir o bem que se faz ética e o belo que se faz estética como um caleidoscópio de emoções, experiências, conhecimento e utopias. Para conseguir atingir essa meta humana, é preciso refazer o caminho teológico e filosófico como fez magistralmente Hans Urs von Balthasar ao realizar magistral obra em que mostra que o abandono progressivo de desenvolver a teologia cristã à luz do terceiro transcendental, isto é, completar a visão do verum, bonun, mediante o pulchrum, empobreceu o pensamento cristão.

Experimentamos a arte como um dom e dádiva especial de Deus para cada um nós sem quaisquer exclusões. Verificamos que há uma busca do belo, presente em cada ser humano, quando este tem sede de eternidade, felicidade, serenidade e imortalidade. Não é errôneo dizer que as obras de arte expressam Deus. Há pinturas que são verdadeiros portais do divino. Há músicas que abrem para o infinito, como Mozart, Beethoven. Há esculturas que quase falam como o Moisés de Michelangelo. A beleza nos faz melhores. Apesar de sermos seres incompletos. A beleza nos incomoda, pois incomodou previamente o artista. O artista é alguém incitado, conclamado, instigado pelo belo. A tarefa que recebeu é árdua. Como uma cruz pesada. Ele deve saber que todos os seus atos, sentimentos, pensamentos não são fundamentalmente a matéria imponderável de onde surgirão suas obras. Ele deve saber que não é livre, durante toda a sua vida como artista, e que só o será de fato pela arte.

Chegamos a algumas perguntas: A beleza antiga cura feridas modernas? A beleza conduziria a Deus? Existe algum caminho privilegiado que possa nos conduzir a Deus? A beleza poderia ser esta via?

O teólogo Clodovis Boff cita algumas destas linguagens expressivas ou vias de expressão da fé: a poesia, a música, o canto, a pintura, o teatro, a dança, as narrativas, as máximas, a simbologia e o humorismo. A lista valoriza todo o mundo da arte como via pulchritudinis, “caminhos da beleza”. Lembra que a linguagem plástica privilegiada sempre o é a da liturgia. E diz que este caminho é meio de expressão e dialeticamente fonte de fé e de reflexão teológica. Portanto, segundo o autor, são lugares teológicos. Diz ele que o teólogo sempre deve estar pronto a dizer: “Que teologia há por trás disto: deste canto ou desta pintura? Tematizará então esta teologia implícita, enriquecendo-a, em seguida, pelo confronto com a tradição da fé e os desafios da historia”.

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