Unidade dos Cristãos

Diálogo ecumênico começa pela oração, diz presidente do CONIC

O diálogo é a uma das ferramentas fundamentais para o trabalho feito pelas Igrejas em prol da unidade dos cristãos. Ele pode ser pautado em torno de assuntos sociais, políticos, doutrinais, éticos, entre outros. No entanto, segundo o presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), Dom Manoel João Francisco, “o princípio do diálogo deve estar na espiritualidade”.

“O ecumenismo, se não tiver uma espiritualidade, não caminha. Ele tem que partir da graça de Deus que toca o coração de todos nós, cristãos católicos e os de outras Igrejas, e nos chama a viver com Ele e Nele. Quanto mais próximos de Cristo nós tivermos, mais unidos também estaremos”, explicou o bispo.

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Dom Manoel esclarece que o ecumenismo deve partir do cultivo da espiritualidade, da oração, principalmente da oração em comum. Igrejas rezando juntas, católicos rezando pela unidade dos cristãos, assim como os de outras denominações cristãs, fazendo o mesmo. O fato é que a oração deve ser o fio condutor de todos os trabalhos ecumênicos.

Criar um ambiente oracional é o que destaca o presidente do CONIC. "Nós como católicos, devemos rezar pela unidade dos cristãos e também esperamos que eles, nos seus cultos, rezem também; e rezarmos uns pelos outros. Nós católicos devemos rezar pelos irmãos metodistas, anglicanos, etc., inclusive por situações específicas, intenções especiais destes irmãos”.

Dado esse primeiro passo, considerado por Dom Manuel como primordial, a outra proposta do bispo é a aproximação. Para ele, é necessário criar oportunidades que favoreçam a relação fraterna entre os membros das Igrejas, principalmente os líderes. Algo como promover encontros de convivência e fraternidade.  “Isso desperta a confiança mútua, uma relação mais fraterna e de proximidade”, opinou.

Na concepção de Dom Manoel, oração, aproximação e confiança abrem o caminho para outras discussões, inclusive, sobre questões doutrinais. Após avançar nos primeiros aspectos, diz o bispo, “podemos começar a discutir doutrina e as diferenças. Se começarmos já no início pelas diferenças de doutrina, vai começar uma discussão teórica, de ordem emocional e, ao invés de unir, vai separar mais.”

“É importante que haja um diálogo doutrinal, às vezes estamos separados por causa da doutrina, por isso deve ser esclarecida. Mas, em minha opinião, não se deve começar pelo lado doutrinal, mas antes pelo espiritual”, salientou Dom Manoel.

O que dificulta a unidade dos cristãos?

Dom Manoel destaca a indiferença religiosa como a principal barreira que dificulta o ecumenismo. Para ele, falta adesão a Jesus Cristo, falta uma conversão constante.

“Nós, católicos, precisamos nos converter mais a Cristo. Falta adesão a Jesus, falta conversão. Umas das dificuldades é o indiferentismo religioso entre os cristãos. Há pouca adesão a Cristo, isso faz necessária uma verdadeira conversão diária. São cristãos, mas indiferentes, de tempos em tempos vão à igreja, e não tem aquele empenho necessário”, destacou Dom Manoel.

Para o bispo, é preciso fazer um trabalho de conversão pessoal, de missão, de adesão a Jesus e também à Fé que se professa na respectiva Igreja.  Segundo ele, quem não tem uma Fé autêntica, enraizada, quem não a conhece não pode viver o ecumenismo.

“A gente só consegue fazer trabalho ecumênico quando estamos identificados com a Igreja da gente. Ecumenismo não significa não ter identidade eclesial. Só posso ser ecumênico na medida em que eu sou católico de verdade. O irmão luterano só poderá ser ecumênico se for luterano de verdade e assim por diante. Ecumenismo não é falta de identidade eclesial, ao contrário, é preciso ter identidade eclesial, com abertura para o diálogo e para acolher o irmão”, salientou.

Os frutos do trabalho ecumênico no Brasil

O principal resultado do trabalho que o CONIC realiza no Brasil a cerca de 30 anos está na linha social. Dom Manoel ressalta os benefícios desse trabalho em conjunto feito pelas Igrejas do CONIC, nos vários segmentos da sociedade, em favor dos mais necessitados. Segundo ele, a solidariedade e a sensibilidade com o sofrimento do próximo é um dos pontos propulsores que impulsiona a unidade dos cristãos.

“A solidariedade é motivo para os cristãos se unirem no esforço de superar os sofrimentos, propondo atividades em comum. A questão ecológica também é ocasião para os cristãos se unirem. A partir do tema da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (SOUC), ‘O que Deus exige de nós?’, nas muitas realidades que circundam a sociedade brasileira, na realidade dos povos indígenas, dos quilombolas, da violência na juventude, devemos nos questionar: o que Deus quer de nós diante disso?”, disse.

Dom Manoel também destaca a participação do CONIC no programa “Brasil Nunca Mais”, que debate questões sobre a ditadura; também o apoio do organismo à Comissão da Verdade e a participação na Cúpula dos Povos que aconteceu no Rio de Janeiro, no ano passado. “Temos nos empenhado bastante, participado de grupos que o governo tem nessa linha social. O CONIC tem sua cadeira em vários organismos do governo nesse sentido”, defendeu.

Na linha da espiritualidade, o destaque é para a Semana de oração pela Unidade dos Cristãos (SOUC) que acontece todos os anos e é organizada pelo CONIC. Para o presidente do organismo a SOUC tem produzido bons resultados de unidade entre as Igrejas e mobilizado as comunidades para o ecumenismo.

Outros resultados positivos também são ressaltados por Dom Manoel. Entre eles a aceitação do batismo válido em todas as Igrejas que assinaram o acordo e fazem parte do CONIC. Além disso, alguns estudos doutrinais que já são realizados por comissões pertencentes ao organismo e que estão sendo analisados.

           

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