27 de agosto

Dia do Psicólogo: profissionais comemoram data frisando saúde mental

Dia do Psicólogo é comemorado hoje; psicólogas comentam a escolha profissional e a satisfação pelo trabalho

Denise Claro
Da redação

Dia do Psicólogo é comemorado nesta sexta-feira, 27/ Foto: muratdeniz by Getty Images

Nesta sexta-feira, 27, é comemorado o Dia do Psicólogo. A data se tornou oficial pela Lei 13.407/2016, sancionada pela Presidência da República no dia 26 de dezembro de 2016.

A profissão, que sempre teve uma grande importância, ganhou ainda maior destaque em meio a este período de pandemia, quando a necessidade do cuidado com a saúde mental se tornou mais evidente. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), “a saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”.

Cristiane Pacheco, psicóloga./ Foto: Arquivo Pessoal.

A psicóloga Cristiane Pacheco conta como se deu a escolha da profissão. “Um dia ouvi a seguinte frase: ‘Nossa, você é tão observadora… Parece até psicóloga’. Pronto! Fui fisgada, pois se tem uma coisa que nunca tive dúvidas é de que adoro gente, histórias de vida, exatamente o nosso objeto de trabalho principal.”

Ela conta que, na época, não havia uma grande valorização da profissão, e que existia um estigma de que psicólogo era coisa de “maluco/doido”. E afirma que um desafio ainda hoje é lidar com algumas pessoas que pensam que ser psicólogo é apenas “ficar ouvindo as pessoas falarem”.

“Amo ser psicóloga. A profissão me traz muita satisfação. Nosso trabalho não é restrito aos 40/50 minutos de sessão. Vamos além, estudamos cada caso, discutimos com nossos supervisores, fazemos nossa própria terapia a fim de ter neutralidade e escutar cada um despidos de qualquer preconceito ou ideal. Hoje, sinto que meu trabalho é reconhecido e que o preconceito vem diminuindo cada vez mais.”

Realização profissional

Flávia Martins, psicóloga./ Foto: Arquivo Pessoal.

A psicóloga Flávia Martins escolheu a profissão justamente porque teve uma experiência com a terapia aos 18 anos. 

“Iniciei por conta da minha timidez, e ao perceber o efeito em mim, desejei ser portadora deste efeito na vida de outras pessoas. Por limitações financeiras, somente consegui dar o primeiro passo quando eu já tinha 38 anos. Foram 20 anos de espera, e aproveitei cada segundo quando alcancei este sonho. Mudar radicalmente o rumo da minha vida profissional aos 42 anos, quando me formei, foi um grande desafio pra mim, e hoje me sinto realizada.”

Quanto aos desafios, Flávia ressalta que os profissionais de psicologia lidam com algo muito delicado do homem que são suas questões interiores em que, muitas vezes, nem ele sabe que estão ali. 

“É muito comum a queixa inicial ser somente a ponta do iceberg. O manejo do psicólogo é muito importante para conseguir ajudar o paciente a ir desvendando o que realmente há de sofrimento psíquico para ser elaborado em terapia.”

O Processo Terapêutico

Cristiane diz que o maior fruto do seu trabalho é ver a melhora dos pacientes. “Um sujeito que chega disfuncional, repleto de questionamentos, perdido, e que, ao longo do processo, se dá conta de tantas coisas, passa a entender suas emoções, seu funcionamento e torna-se capaz de levar uma vida equilibrada, saudável e funcional, melhora seus relacionamentos.”

A especialista considera o cuidado com a saúde mental essencial. “Acredito que esse tripé da saúde (físico, mental e social) precisa estar em um perfeito funcionamento. Além disso, a saúde mental afeta diretamente os demais componentes.”

Para Cristiane, é o tratamento psicológico que irá atenuar os demais sofrimentos, dando ao paciente a funcionalidade necessária para cuidar da saúde física e da vida em sociedade.

Psicologia na Pandemia 

Flávia comenta que nunca se viu um movimento tão grande para voltar-se para si mesmo, como nestes tempos de pandemia. O fato de as pessoas terem sido cerceadas em sua liberdade interferiu demais na sua saúde mental. O isolamento, a falta de contato físico, tão importantes para o desenvolvimento afetivo, provocou um grande sofrimento psíquico. 

“O medo da morte e de perder pessoas queridas também foi outro fator preponderante na saúde psíquica da sociedade de uma forma geral. Foi e está sendo um período difícil, neste sentido, mas também uma oportunidade de abertura a um novo olhar para o processo terapêutico, que também rompeu a barreira da distância, aumentando consideravelmente os atendimentos on-line.”

Cristiane avalia que a pandemia promoveu uma guinada de 360 graus na profissão. “Até pouco tempo atrás, havia grande resistência ao atendimento on-line e sua efetividade era questionada. Em quase dois anos, isso mudou completamente, acrescido da divulgação do nosso trabalho. Com a movimentação nas redes sociais, o trabalho do psicólogo foi desmistificado e, de certa forma, popularizado, fazendo com que mais pessoas conheçam a profissão e se permitam buscar ajuda para questões que estão difíceis de lidar sozinho”, diz Cristiane.

Autoconhecimento e autoconfiança

A professora Luciana Maria Azevedo faz terapia há muitos anos. Começou no final da graduação por conta da ansiedade do fim do curso. Ela conta que o processo terapêutico a ajudou a desenvolver seu autoconhecimento e autoconfiança, além de ajudar a identificar e lidar com o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). 

“Acho que, independentemente de ter alguma questão latente que precise de atenção, todos deveriam fazer terapia. É um processo que ajuda no nosso crescimento e a curar feridas do passado e compreender melhor a si mesmo e aos outros.”

Para Luciana, especialmente nestes tempos de pandemia, o trabalho do psicólogo se mostra mais importante do que nunca. 

“Ninguém tá bem. Foi uma mudança abrupta na vida de todos, muitas perdas em todos os sentidos, e isso mexe com nosso íntimo. Ter o acompanhamento de um profissional adequado nos ajuda a não sucumbir. Para os psicólogos eu diria: muito obrigada pela escolha, e desejo muita força para continuar sendo aqueles que nos auxiliam a ter uma qualidade de vida melhor.”

Terapia para todos

O ator André Lemos faz terapia há 9 anos e meio. É atendido uma vez por semana, e, neste período, por conta da pandemia, de forma on-line. Ele conta que buscou a terapia por motivos profissionais, mas que o processo o ajudou em todas as áreas.

“Sempre fui uma pessoa muito insegura devido a alguns traumas de infância. Na verdade, tudo que somos hoje é reflexo do que vivemos nessa fase. Hoje em dia, reconheço e assumo o que sou e quem eu sou. A terapia me ajudou a ter mais segurança em tudo que faço profissionalmente, ajudou-me a reconhecer o meu valor, a ter educação financeira e a posicionar-me com segurança e mais clareza com minhas opiniões e atitudes.”

Em relação ao tempo de pandemia, o ator afirma que o trabalho dos psicólogos foi fundamental para a sobrevivência. “Eu superei os piores momentos dessa pandemia graças à minha terapia. Tive saúde mental pra enfrentar desemprego, solidão, medo do futuro e muitas outras coisas.”

Ao ser perguntado sobre quem acha que deveria fazer terapia, André responde com convicção: “Todos! Infelizmente, sabemos que nem todo mundo tem a consciência dessa necessidade, e muitas vezes não tem condições financeiras pra manter esse tipo de tratamento. Mas existem muitos projetos sociais que oferecem gratuitamente atendimento psicológico; e se alguém sentir esse desejo (porque precisa querer!), é só ir atrás que, com certeza, encontrará um profissional para atendê-lo. Seja em qualquer momento da sua vida, acredite, vale a pena conhecer-se e reconhecer-se. Olhar pra dentro é muito difícil, mas é possível!”

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