7 de abril

Data nacional chama atenção para conscientização sobre o bullying

Bullying traz consequências psicológicas que podem ocasionar problemas físicos; veja testemunho de quem já sofreu com essa agressão

Jéssica Marçal
Da Redação

“Quanto mais se pratica a conduta, mais intenso e devastador será o sofrimento da vítima”, alerta professora / Foto: Arquivo – Canção Nova

Nesta sexta-feira, 7, celebra-se o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola, data instituída pela Lei nº 13.277, de 29 de abril de 2016. A chamada “zuação” ou “chacota” em virtude de alguma característica que a pessoa tem acarreta em consequências psíquicas que podem gerar problemas físicos.

O bullying (do inglês bully = valentão, brigão) pode ocorrer tanto na família como no convívio social, mas é mais comum no ambiente escolar. Dados da PeNSE 2015 (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar) revelaram que 7,4% dos alunos afirmaram que na maior parte do tempo ou sempre se sentiram humilhados por provocações. 19,8% disseram já ter zombado de algum colega de escola e os principais motivos das provocações dos colegas foram a aparência do corpo (15,6%) e aparência do rosto (10,9%).

A prática se caracteriza por atos intencionais e repetidos de agressão e de intimidação contra alguém, causando na vítima humilhação e sentimento de impotência diante do agressor. O ambiente digital não fica de fora: divulgar imagens e comentários que denigram uma pessoa caracteriza o chamado “cyberbullying”, que tem um dano ainda mais grave por propagar-se nas redes sociais.

“Certamente uma brincadeira isolada, pontual ou de mau gosto, por si só não caracteriza o bullying, contudo, ser for reiterada, sistemática poderá conduzir ao bullying. Quanto mais se pratica a conduta, mais intenso e devastador será o sofrimento da vítima”, explica a professora Maria Aparecida Alkimin, pós-doutora em Democracia e Direitos Humanos pela Universidade de Coimbra e uma das responsáveis por uma cartilha sobre bullying.

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Como identificar o bullying?

Maria Aparecida explica que o bullying pode acontecer por condutas declaradas, inclusive com a presença de testemunhas, ou no isolamento, quando, muitas vezes, a própria vítima demora para perceber a agressão.

De uma forma ou de outra, a criança que sofre o bullying passa a apresentar alguns sinais em seu comportamento. “Sentimento de tristeza, isolamento, perda da autoestima, síndrome do pânico e medo de ir na escola, dor de barriga, irritabilidade, manifesta a intenção de sair ou mudar de escola, enfim, somatiza toda carga psíquica e acaba desenvolvendo sintomas psíquico-físicos, cefaleia, problemas digestivos, insônia, ansiedade, depressão, pensamento suicida etc”.

E muito se engana quem pensa que as crianças são as únicas vítimas dessa agressão. Maria Aparecida fala do chamado “bullying universitário”, normalmente através de práticas discriminatórias, e do próprio cyberbullying, que envolve as redes sociais. O bullying no ambiente de trabalho também pode ocorrer, contudo, recebe a denominação de assédio moral.

“Da mesma forma, gera sofrimento psíquico que pode desaguar em consequências físicas, podendo também levar a atos de agressão por parte da vítima que poderá buscar a sua defesa através de outro ato de violência, desprezando a solução pacífica ou até mesmo judicial”.

Como é sofrer bullying?

Por nove anos o jovem Jefferson Almeida conviveu com essa realidade de perto. Ele conta que sempre foi muito grande e gordinho para sua idade e dos 8 aos 17 anos sofreu com a prática discriminatória. “Quem é gordinho sempre sofre bullying, não tem jeito (…) Bullying sempre existiu, mas antes não tinha tanta importância, ninguém dava atenção”.

Jefferson conta que a reação ao bullying era sempre de constrangimento, pela ridicularização diante de outras pessoas, e ele acabava ficando retraído e não gostava do que enxergava quando se colocava na frente do espelho.

Por conta do bullying, Jefferson teve que fazer um acompanhamento por questões de saúde e acabou desenvolvendo bulimia, além de fazer exercícios físicos em excesso e “dietas loucas”. “Na minha cabeça ninguém ia me chamar mais de gordo, fofo e etc. Então comecei a fazer as dietas e as atividades físicas, e quando eu comia, mesmo não comendo muito, me sentia culpado, típico de quem tem bulimia. Hoje eu preciso me policiar, pra não voltar pra bulimia, mas ainda fico encabulado com medo de engordar tudo de novo”.

Hoje, Jefferson tem 25 anos, cursa a faculdade de Arquitetura e Urbanismo e aprendeu a ter uma postura diferente diante do bullying. “O primeiro passo é não se importar com a opinião dos outros ou com o que acham de nós. A visão das pessoas não constroem aquilo que somos, e o que não devemos é mudar pra agradar os outros, importante é estarmos bem com nós mesmos. Nosso caráter é o que compõe nossa verdadeira identidade”.

Combate ao bullying

Em 2016, foi instituído o dia 7 de abril como Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola. No ano anterior, foi publicada uma lei que instituiu o programa de combate ao bullying. É previsto que escolas, clubes e agremiações recreativas desenvolvam medidas de conscientização, prevenção e combate ao bullying.

Essas iniciativas, segundo a professora Maria Aparecida, não se referem à repressão, mas à conscientização e prevenção contra esse tipo de agressão à pessoa. “A família, a sociedade e o Estado têm o dever de educar para paz, para o convívio harmônico, respeitoso e solidário. Isso é uma forma de política pública para combater o bullying”.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

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