Testemunho

Cristãos perseguidos: missionários falam de perdão em meio à barbárie

Padre Luís Montes e Irmã Maria de Guadalupe, missionários há 20 anos, testemunham fé dos cristãos perseguidos no Oriente Médio

Julia Beck
Da redação

Missionários do Instituto do Verbo Encarnado (IVE), Padre Luís e Irmã Guadalupe testemunharam realidade dos cristãos perseguidos no Oriente Médio /Foto: Wesley Almeida – Canção Nova

Há 20 anos convivendo com a barbárie e o massacre de religiosos no Oriente Médio, os missionários padre Luís Montes e irmã Maria de Guadalupe, do Instituto do Verbo Encarnado (IVE), estão no Brasil e relatam a experiência vivida no Iraque e na Síria, respectivamente. Ambos destacam a capacidade que os cristãos perseguidos têm de perdoar. “Eles despertam a graça e o perdão nos outros”, disse padre Luís.

Os missionários argentinos vieram ao país para testemunhar a realidade dos cristãos perseguidos e foi justamente esse o contexto da pregação que eles fizeram nesta quinta-feira, 28, na “Quinta-feira de Adoração”, na sede da Comunidade Canção Nova, em Cacheira Paulista (SP). O tema da pregação foi “Perdoar, um ato de vontade”.

Padre Luís e irmã Guadalupe durante pregação nesta quinta-feira, 28, na Canção Nova /Foto: Wesley Almeida – Canção Nova

Desde 2003, países como o Iraque, Síria, Egito, Arábia Saudita, Paquistão, Afeganistão e Nigéria enfrentam conflitos relacionados à perseguição aos cristãos. Educados na fé para falarem com suas palavras e com suas vidas sobre perdão e caridade, crianças e adultos afirmam perdoar seus perseguidores. “Se Jesus me perdoou eu também tenho que perdoar”, frase e vivência contadas pelo padre Luís. “Nem a guerra nem a perseguição podem tirar deles a vida eterna, só o pecado. A grande luta deles é contra o pecado”, afirmou irmã Guadalupe.

Padre Luís contou que essa é uma região onde a regra escrita “olho por olho, dente por dente” é bastante disseminada e as guerras seguem o princípio “bomba por bomba, atentado por atentado”. Neste contexto, segundo ele, assumir-se cristão é ser discriminado, pressionado — desde pequeno — para ser muçulmano e ter a certeza de uma execução sangrenta. Segundo irmã Guadalupe, cristãos orientais sorriem e colocam a felicidade em um lugar onde ninguém pode tirá-la, o céu. “Eles dizem: “O que pode me fazer um terrorista? Ao meu físico tudo, mas em minha alma não podem tocar”. Viver entre eles é aprender todos os dias sobre fé e perdão”, concluiu a religiosa.

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.: Trechos da pregação do padre Luís e da irmã Guadalupe

Testemunho de amor e devoção em meio à perseguição

Nas mãos do padre Luís, broche usado pelos cristãos perseguidos que se assumem “nazarenos” / Foto: Wesley Almeida – Canção Nova

Os cristãos egípcios carregam consigo a cruz em seus pulsos, em sinal de fé e fidelidade ao cristianismo e são, segundo irmã Guadalupe, educados desde cedo no amor ao Nazareno, que é como os cristãos de lá se referem a Jesus. As casas dos cristãos orientais são marcadas com o símbolo que representa a letra “N”, no alfabeto árabe, e eles optam por carregar em suas vestes broches com a letra, reafirmando a condição cristã.

Crianças falam sobre seu futuro, e com serenidade rezam a Deus, “eu te amo tanto daria minha vida por Ti”, e dizem a todos “Não estaremos nós, cristãos, dispostos a viver pelo Cristo que morreu por nós?”, testemunhou a religiosa.

Segundo o sacerdote, os milagres são vistos diariamente e as histórias sobre mártires são propagadas como forma de apoio aos que padecem pela perseguição. Essa propagação acontece em páginas na rede social, facebook, nomeadas “SOS Cristianos en Siria”, “Amigos de Irak” e “Nazarenos Perseguidos”. Os perfis, administrados por membros do Instituto do Verbo Encarnado (IVE), informam ao mundo os acontecimentos nas áreas de conflito e testemunhos de cristãos perseguidos no Oriente.

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A ajuda da Igreja em meio às estatísticas

“A Igreja salva milhares de cristãos. Quando o Estado Islâmico avança sobre as cidades, os perseguidos fogem em massa para o mesmo destino, as igrejas. São dadas aos cristãos desamparados, casa, luz, água, comida, medicamentos e educação. A fundação ‘Ajuda à Igreja que Sofre’ envia suporte direto”, afirma padre Luís.

Segundo o missionário, em 2003 havia no Iraque cerca de 1,5 milhão de cristãos, uma minoria considerável. Após 14 anos de conflitos, o número de cristãos diminuiu para menos de 300 mil. “Uma catástrofe para o país, ou melhor, uma catástrofe para a humanidade”, comentou o sacerdote. Para o padre, as perseguições no Oriente são situações que já ocorrem na Europa, mas que podem ganhar força e se alastrar pelo mundo, pela América.

“O Ocidente também sofre perseguições, porém menos veladas. No Oriente é pela espada, no Ocidente é mais sutil, mas a fé cristã é atacada pelos meios de comunicação, pela lei, ataques a família, tudo isso é perseguição” declarou irmã Guadalupe. Para a religiosa, se o resto do mundo fosse melhor informado sobre os acontecimentos nos países árabes, a mobilização seria maior em todos os sentidos, para a ajuda material a estes cristãos que padecem e também para o fim do massacre.

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