Congresso Eucarístico 2010

Homilia do Cardeal Cláudio Hummes na Missa da Solidariedade

Meus irmãos, minhas irmãs, meus queridos, vocês os mais necessitados, os pobres; aqueles que foram excluídos, de forma muito injusta de participar igualmente dos bens da terra. Aqui no Brasil, como em todo mundo existe muitos pobres. Quero saudar a vocês de modo particular os pobres, os moradores de rua, os desempregados, aqueles que além da pobreza; são doentes, que passam por tantas necessidades, e posso dizer que nesta saudação, também está a palavra e a saudação do Papa Bento XVI.

Quero saudar os bispos, os padres, o Núncio Apostólico (Dom Lorenzo Baldisseri) que é o embaixador do Papa aqui no Brasil, o Arcebispo de Brasília Dom João, aqui presentes. Saúdo o bispo que veio do Haiti, ele tem experiência do que é viver em situações de pobreza. Quero saudar as autoridades presentes, Gilberto Carvalho, secretário do presidente Lula, e outras autoridades. Saudar aqueles que, estão perto de vocês no dia-a-dia, sobretudo esta paróquia dos franciscanos, pois somos todos filhos de São Francisco, que é muito amigo de vocês, os pobres. Ele quis ser pobre, viveu no meio dos pobres. No céu vocês têm um grande amigo, São Francisco.

Penso que esta celebração é uma das mais importantes do Congresso Eucarístico. Hoje, este Congresso está aqui no meio de vocês, os pobres. Estamos com vocês, com muita humildade, com a consciência de que não fizemos tudo que já podíamos e devíamos ter feito para que a enorme desigualdade, económica, social, cultural, não existisse e para que pudéssemos sentar de forma mais justa junto de vocês.

Queremos chegar cada vez mais perto disto, é um compromisso, uma responsabilidade, um programa que precisa ser realizado. É claro, que para resolver a miséria e a pobreza do país, não se faz por um decreto – embora este possa ajudar mas que está em falta. Devemos reconhecer que, nos últimas décadas, nos últimos governos, muitos saíram da pobreza e estão no nível melhor, que se chama classe média baixa. Devemos cuidar para que não se volte.

Todos somos responsáveis pela miséria, analfabetismo, pela falta de moradia, falta de escola, pela falta de saúde. Que tudo isso seja vencido e é por isso que estamos aqui, para nos comprometermos a trabalhar com todas as pessoas de boa vontade, as instituições que trabalham nesta área. Queremos ajudar a manter a sociedade atenta, para que ela não se acostume a ver os pobres e achar que isso é normal, devemos ajudar para que ela (sociedade) veja que isso é tremendamente injusto e não é normal.

Se o Congresso Eucarístico da Igreja Católica hoje está aqui, é porque queremos assumir mais uma vez este compromisso, e eu vejo que a Igreja Católica tem se empenhado bastante. Nos últimos 30, 40 anos, de forma mais programada e mais entendida, temos compreendido melhor como funciona esta “máquina” que produz pobres, para combater as causas. Ela (Igreja) tem se esforçado e tem falado, mas tem ainda muito chão para caminhar. Repito: há muito chão para caminhar, e não podemos voltar. Tenho muita fé de que o Brasil chegará em uma situação mais fraterna, mais justa e pacífica.

Fui arcebispo em São Paulo até 2006, lá temos uma infinidade de pobres nas ruas. Mais uma vez, há poucos dias em São Paulo, seis pessoas foram mortas fuziladas dormindo. Claro que logo se diz: “ah, mas aquilo era coisa da droga…”, mas era gente, eram pessoas. Mesmo que tivessem cometido algum delito elas tinham o direito de serem julgadas, e não mortas. Por isso digo: temos muito que trabalhar ainda e poder ajudá-los a sair desta situação difícil e injusta. E nós sabemos que vocês mesmos estão se organizando. Hoje, a nossa população de rua se organiza, faz cooperativas, são “catadores” de papel. O Lula, e eu também, fomos sentar junto deles lá em São Paulo, debaixo da ponte, no Natal, e eles tem uma organização muito bonita. Eu dizia para o Lula: Hoje, este é o seu palácio (o governo) e esta é minha catedral. Mas estes momentos são símbolos que devem se tornar realidade, e por isso estamos aqui mais uma vez, para nos comprometer. Isso nós o fazemos por causa de Jesus Cristo. Deus é que ama vocês e a todos nós.

Se existe muita coisa certa sobre Deus – e existe muito – esta é fundamental: Ele nos ama apesar de nossos pecados. Antes dos nossos pecados Ele nos amou primeiro, Ele é um Pai que nos ama, é um irmão, um amigo, Ele é um aliado. E quando Ele viu uma grande parte de seus filhos que estavam sendo vítimas de injustiças, que não faz parte D´Ele mas da forma em que organizamos a sociedade, nós é que somos os responsáveis pela miséria, porque somos nós que aprovamos as leis, nós que fazemos os privilégios, as oportunidades para que se beneficiem injustamente alguns como instituições e estruturas. Por isso Deus mandou seu filho sendo pobre, pois Jesus quis ser pobre para dizer aos pobres: “Eu estou com vocês”. Ele veio para mudar, porque ama, sobretudo, aqueles que são vitimas da sociedade e das estruturas. Por isso num certo momento Jesus diz: “O Espírito Santo está sobre mim, me consagrou, me enviou para anunciar a Boa notícia aos pobres”. Qual a boa notícia? Era dizer “Minha gente, Meus caros irmãos pobres, não foi Deus que fez vocês pobres, Ele é contra isso e Ele Me enviou para ver se reformulamos este mundo para que todos sejamos irmãos”. Ele diz “Vós sois todos irmãos e entre irmãos não pode haver desigualdades, injustiças, discriminações, exclusões”.

Então nós fazemos isso por causa de Jesus Cristo, e devemos até nos alegrar porque Ele confia em nós e nos envia a colaborar com Ele para mudar o mundo, e todos que trabalham nisso são seus discípulos até às vezes sem saber ou sem Tê-lo conhecido. Portanto, mesmo aqueles que nem sabem que são discípulos, mas amam verdadeiramente o próximo, trabalham para aqueles que estão na pior, ajuda-os a levantar, os animam para que eles se levantem para fazerem o seu esforço também, estes são discípulos de Jesus.

Tenho muito orgulho de ser enviado pelo Papa, por ter me enviado para este Congresso, pois é um homem extraordinário, um homem de Deus e muito amigo de vocês, ele mostrou num gesto simbólico quando na Semana Santa em Roma, onde tem uma comunidade Santo Egídio que trabalha com os pobres, o Papa foi lá almoçar com os pobres, deu uma mensagem a eles, abraçou-os, sentou junto deles. O Papa me enviou para cá, portanto eu também quero fazer isto, e nós todos queremos fazer isto; os bispos, os padres que estão aqui. Ele (Papa) é um exemplo para todos nós. É claro que isso é um gesto simbólico, isto não muda nada ainda, mas muda os nossos corações e mostra o nosso carinho por vocês.

E aqui, hoje, Jesus convida vocês. Ele abriu uma mesa, Ele nos deu um pão que é Ele mesmo, de forma sacramental, mas é Ele mesmo. Quando comungamos nós estamos com Ele, ou melhor, Ele está conosco. Jesus quer nos dizer com isso que assim como ele nos deu a vida na cruz, devemos dar a vida uns pelos outros. Jesus também nos ensinou que assim como Ele repartiu o pão aqui, devemos lutar para que o seja distribuído na sociedade e não acumulado nas mãos de alguns que nem sabem o que fazer com ele, porque sobrou, mas por causa da ganância de querer tê-lo não distribui. Pão aqui não significa só o alimento, mas os bens materiais, as necessidades fundamentais de casa, comida, saúde, mas a saúde, educação, segurança, previdência, mas também os bem culturais, os bens sociais, iguais acessos… Ele nos ensina isso, da mesma forma que estamos sentados aqui todos iguais, a sociedade também deveria ser assim.

Todos somos iguais, irmãos; com funções diferentes, não um maior que o outro. Os padres e bispos que estão aqui eles não são maiores e sim servidores. Eu digo sempre para os ministros de estado: não esqueçam que vocês são ministros e não dominadores, vocês são aqueles que devem servir o povo, pois o povo é importante. São coisas que Jesus nos ensinou, Ele o mestre, Ele o Senhor, Ele o próprio Deus lavou os pés dos discípulos.

Isso que eu queria dizer a vocês hoje aqui, que queremos sentar todos juntos, os pobres e nós todos aqui, e depois na mesa, sentarmos juntos e nos comprometermos juntos, sermos mais irmãos e realizar o sonho de Deus de fazer uma família de irmãos, uma sociedade justa, fraterna, pacifica, aberta às coisas maiores, abertas a Deus e aos irmãos.

Transcrição feita pelo cancaonova.com

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