Artigo

Coluna da semana: Promessas ou Re-promessas de início de ano

Nesse início de ano, padre Mário Marcelo fala das tradicionais “promessas da virada” e da esperança que reveste a vida humana

Padre Mário Marcelo Coelho,scj

Padre Mario Marcelo / Foto: Arquivo Pessoal

Padre Mario Marcelo / Foto: Arquivo Pessoal

Todo Réveillon é igual em muitos aspectos. Sempre queremos melhorar nossas vidas em diversos aspectos e acabamos fazendo as famosas promessas ou re-promessas de começo de ano.

O fim de um ciclo marcado pelo calendário ou ano civil traz a muitas pessoas a esperança de mudanças ou melhoras; ex. deixar de fumar, emagrecer, perder aquela barriguinha, voltar a praticar atividades físicas, mudar de emprego, dar mais atenção aos amigos, ter mais carinho com a família, abandonar aquele amor que parece impossível, começar a investir na carreira dos sonhos, começar a estudar inglês pra valer, enfim uma lista infindável que muitos conhecemos. Razões não faltam para as mais diversas promessas.
Estas promessas surgem pela mesma lógica que estimula as pessoas a começarem uma dieta “na segunda-feira”. Para muitos, a hora da virada é o momento que poderão se organizar para estabelecer a mudança, renovar seus sentimentos, aumentar sua disposição em cumprir as metas estabelecidas, retomar propósitos ou criar novos e mesmo abandonar o que avaliam que não foi bom no ano que termina. Portanto, Richard Wiseman, psicólogo britânico, realizou uma pesquisa em 2007 e mostrou que pouco mais de 10% das pessoas cumprem suas promessas de fim de ano.

Outro fenômeno que desponta nesta época, sobretudo na mídia, são os denominados “gurus” das mais variadas denominações, formações e integridades. Pessoas que fazem previsões, apontam metas e dão respostas simples e mágicas para entender tudo e responder tudo. Muitos exploram o desespero das pessoas que querem soluções rápidas, mágicas e certamente positivas. Basta estarmos atentos às TVs, sobretudo 31 de Dezembro, para percebermos o aumento das consultas aos búzios, cartas, oráculos, crescimento nas vendas de livros de autoajuda, etc. Isso sem contar os desejos feitos nessas datas que, presos às diversas simpatias, fazem desabrocharem as esperanças pelo menos nas primeiras semanas do ano e para muitos murcharem logo depois.

O que leva ao fracasso das muitas promessas? Promessas em vão? Comprometemo-nos e não cumprimos porque somos fracos, sem força de vontade, frágeis seres à mercê de hábitos mais fortes, vítimas de nós mesmos, de nossa estrutura de pessoa, de um passado que nos condena? Então devemos deixar de lado nossos planos e promessas de ano novo e continuar a fazer do mesmo jeito; ou permanecer na passividade de quem espera o trem, parado com sua mala na estação? Não devemos fazer nada de diferente e ficar esperando que as coisas mudem de direção por si mesmas?

Esperança humana

A esperança tem seu enraizamento antropológico, é vivenciada como experiência de base da existência humana, pessoal, comunitária e coletiva. A Esperança emerge, antes de tudo, como o dinamismo da vida. O enraizamento profundo da esperança no próprio elã vital inconsciente ou pré-consciente dá ao ser humano uma força e uma significação muito especiais. Ela é vivida antes de ser conhecida. Nutrir e reforçar a esperança é, antes de mais nada, oferecer bases e condições concretas de viver.

Em sua realização propriamente humana, a esperança vem ao encontro da pessoa que é um feixe vivo de desejos e de projetos. Seu ponto mesmo de inserção é o ser humano, como capacidade de êxito e de fracasso. O indivíduo, o casal, a família, a sociedade em todas as suas formas, são regidos por esta lei absoluta e imanente. Tudo e todos aspiram pelo êxito e têm horror ao fracasso. Esta lei se estende, simultânea e conjuntamente, ao plano inconsciente, pré-consciente e consciente.

É verdade que, no horizonte da esperança, há incertezas e temores, mas é verdade também que no horizonte da esperança há o ousar, a aventura; e mesmo como afirma Emmanuel Mounier: um homem sem esperança reinventa sempre qualquer esperança. Gabriel Marcel afirmava que quem vive a vida como uma rotina é “um desesperado que nem mesmo sabe que é desesperado”. A esperança precisa ser vista no contexto da vida humana total. “Onde há vida, há esperança”, diz o adágio popular! A esperança é, porém, para muitos, a força fundamental e primária que estimula e impulsiona toda atividade humana. Erich Fromm compara a esperança ao salto do tigre em direção ao seu objetivo. Esperar, pois, é um estado do ser, uma capacidade inata de sonhar e realizar o sonho. A esperança de ser feliz é a tendência fundamental do agir humano que o faz ser mais, abrir-se ao próximo, superar o egoísmo e a avidez.

Com tudo isto afirmamos que não é um mal fazer promessas no início do ano, assumir propósitos, estabelecer metas, fazer projetos. É próprio do ser humano a esperança, o estabelecer projetos. O problema está no uso dos meios errados, falsos, ilusórios e mesmo de superstições como formas de conhecer o futuro e criar projetos. A superstição, crença ou prática que, geralmente, se considera irracional ou resultado da ignorância e do medo do desconhecido, implica em crença nas forças invisíveis sobre as quais acredita ser possível influir.

A Esperança Cristã e um futuro melhor

“Amarás ao Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o entendimento”.
Este mandamento convida o homem a crer em Deus, a esperar nele e a amá-lo acima de tudo. O homem tem o dever de cultuar e adorar a Deus, tanto individualmente quanto em sociedade, portanto, “a superstição é um desvio do culto que rendemos ao verdadeiro Deus, demonstrando-se na idolatria, na adivinhação e na magia” (Catecismo da Igreja Católica, 2138).

A esperança cristã é vivida na oração, na virtude da paciência e na prática da caridade. O agir cristão é todo esperança, pois busca o fim último do homem em Deus. Esperar, para o cristão, nunca foi um acomodar-se. A esperança cristã possui um caráter de confiança em Deus que inclui um desejo e uma tendência em direção ao futuro. A experiência momentânea não pode ser o único fundamento de uma teologia cristã da esperança.

Toda esperança se apoia na convicção de que é possível alcançar o objeto esperado. Na esperança humana, o fundamento de uma tal convicção são as forças humanas e a crença na bondade fundamental dos seres. No homem religioso, isso se transforma na crença numa providência Divina, em um Deus que se revelou como Pai e quer o bem de seus filhos. O cristão não busca respostas ou iluminações em objetos, superstições ou falsos “gurus”, mas é na Palavra de Deus que encontra luz para o futuro e forças para caminhar.

Iluminar corações e mentes com a Boa Notícia da Salvação para que todos possam compreender que a esperança humana – os anseios mais profundos do homem – se realizam, de modo definitivo, na esperança cristã.

A comunidade cristã pode, finalmente, dar sentido às cruzes e aos sofrimentos do homem contemporâneo, pois ela própria sabe que sua esperança repousa na cruz e na ressurreição do seu Senhor.

Como escreve Padre Zezinho,scj: “Sem grandes ilusões, mas também sem pessimismo exagerado e sem desespero, enfrentemos 2016 como quem crê nos bons e quem não tem medo dos maus. Que 2016 nos encontre como encontrou os outros cristãos desde o ano primeiro da nossa era. Esperando dias melhores e fazendo os dias melhores!”

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