Coluna da semana

Padre fala dos "espaços de incredulidade" no coração humano

No artigo desse mês, padre Joãozinho reflete sobre o dom da fé, “resposta humana que resulta da graça de Deus”

Padre Joãozinho, scj
João Carlos Almeida – Teólogo e educador

Padre Joãozinho explica sentido do exame de consciênciaNo dia 25 de maio de 2013, o Papa Francisco escreveu no Twitter:
“Todos temos espaços de incredulidade no coração. Digamos ao Senhor: Eu creio. Ajuda a minha pouca fé!”

Não é possível viver sem fé. Mesmo os ateus acreditam piamente que “Deus não existe”. Creem pelo avesso. Temos uma fé humana. Acreditamos no piloto do avião que nunca vimos e não veremos. Temos confiança no cozinheiro que preparou aquele prato no restaurante, mesmo sem o conhecer. Entramos no elevador e simplesmente não pensamos no técnico que fez a manutenção. Imagine alguém que não confiasse no piloto, motorista, cozinheiro ou nos técnicos. Não teria coragem de sair de casa. Viveria com medo e desconfiado de tudo e de todos. Precisamos também acreditar em nós mesmos. Caso contrário vivemos inseguros e tudo se torna difícil e aparentemente impossível. A fé é um dom maravilhoso. É conhecida a história daquela criança no quarto andar de um prédio em chamas que não duvida em lançar-se ao apelo dos bombeiros que montaram a rede de segurança e gritam: pula! Alguém lhe perguntou depois da salvação: “Você não teve medo de pular?” Ela respondeu serena: “Claro que não; aquele bombeiro era o meu pai”. Existem momentos em que a fé exige esta coragem de pular nos braços do Pai.

Por que será que confiamos no padeiro e nem sempre temos fé em Deus? O Papa Francisco nos lembra que temos “espaços de incredulidade no coração”. São penumbras da alma. São lugares escondidos no porão de nossa consciência. É aquele quartinho da bagunça no qual teimamos em guardar coisas e sentimentos inúteis. Estes espaços estão tão abarrotados que não cabe mais nada. Não há espaço para a fé em Deus. O resultado é insegurança e desconforto. Já deve ter acontecido com você de estranhar o gosto daquela comida na primeira colherada. É melhor não continuar para não se arrepender na hora da indigestão. Se é desagradável não confiar no alimento que está no prato imagina perder a fé no Deus que nos criou.

Há quem pense que a fé se resume na adesão racional a algumas verdades ou dogmas religiosos. Isto é crença. A fé é antes a adesão à “Verdade” e somente depois acreditar em “verdades”. É primeiro fé em “quem” e somente depois “fé em que”. Discutir dogmas e verdades costuma ser motivo de guerras e conflitos. Crentes loucos matam em nome da fé. É crença em um princípio religioso relativo que leva a mutilar o valor absoluto da vida. Isso é tão contraditório como o pai que grita para o seu filho: “Não grite que é falta de educação; quantas vezes vou ter que repetir que aqui em casa não se grita?!” As palavras comovem, mas os exemplos arrastam.

Ninguém escapa de alguns espaços de incredulidade. É mais humilde reconhecer isso e pedir ao Senhor que aumente a nossa fé, afinal, a fé é uma resposta humana que resulta da graça de Deus. Para receber o dom da fé é preciso deixar uma fresta para que Deus entre e faça morada em nosso coração. Ninguém é forte na fé sem a força de Deus. Nossa fé começa pequenina como um grão de mostarda. Mas com a graça de Deus ela cresce e nos torna capazes de remover uma montanha de problemas e dificuldades. Tudo é possível para quem tem o dom da fé. Após o milagre o Senhor nos olha nos olhos e sempre repete: “Vai em paz, a tua fé te salvou!”

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