Coluna da semana

Padre explica sentido da festa da Epifania

Assim como fizeram os Magos do Oriente, é preciso “desinstalar-se” para encontrar o Senhor, diz padre no contexto da festa da Epifania

Padre Mário Marcelo Coelho, scj
Doutor em Teologia Moral

A desinstalação dos Magos

Padre Mário Marcelo destaca que o matrimônio e a família estão inscritos no projeto de Deus / Foto: Arquivo

Padre Mário Marcelo explica a festa da Epifania / Foto: Arquivo

“Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante d’Ele, o adoraram. Depois, abriram seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra”. (Mt 2, 11).

No primeiro domingo de janeiro celebramos a solenidade da Epifania do Senhor também conhecida como a “festa das luzes”. O Evangelho de Mt 2,1-12 proclamado neste dia relata a visita de três Magos ao Menino Jesus.

Epifania significa aparição, manifestação. No sentido religioso, como afirma Santo Agostinho, Epifania é uma palavra grega “epiphanéia” que significa “manifestação”. Na pessoa dos Reis Magos, o Menino-Deus se revelou a todas as nações que, no futuro, seriam iluminadas pela luz da Fé.

Manifestação que acontece na gruta de Belém, diante de todos os povos da terra, representados pelos Reis Magos, onde Deus apresenta Seu Filho Jesus na pobreza, na simplicidade e no total despojamento. Nesta passagem, vemos a concretização da promessa de Deus: ao encontro de Jesus vêm os Magos do oriente, representantes de todos os povos da terra. Atentos aos sinais da chegada do Messias, procuram-n’O com esperança até O encontrar, reconhecem n’Ele a salvação de Deus e aceitam-n’O como o Senhor.

O que os Magos buscavam? O povo se encontrava envolvido em trevas sob o domínio de Roma, no governo de Herodes. É neste período que chegam os Magos a Jerusalém, buscando a luz de um Menino que acabava de nascer. Buscavam a luz, mas a luz não tinha sido vista pelos habitantes de Jerusalém, pois estavam envolvidos nas trevas do ódio, na injustiça e da guerra.

Os Magos representam os homens de todo o mundo que vão ao encontro de Cristo, que são capazes de “ver e acolher” os sinais que Deus nos apresenta, que acolhem a proposta libertadora que o próprio Cristo traz e que se prostram diante d’Ele. É a imagem da Igreja, comunidade de irmãos e irmãs, constituída por pessoas de muitas raças e cores, que aderem a Jesus e que O reconhecem como Luz de todos os povos e como o seu Senhor.
Os Magos, que tinham o hábito de estudar os astros, viram uma estrela, sem dúvida nova para os seus olhos, então puseram-se a caminho… um sinal basta para estes homens. Encontram o Menino em uma Manjedoura, experimentam uma grande alegria, prostram-se e oferecem os seus presentes. O Menino que eles encontram não é uma criança como as outras: é rei, então oferecem-lhe ouro; é Deus, então queimam incenso; passará pela morte antes de ressuscitar, então apresentam a mirra. Seguidores da luz e obedientes da Palavra, os Magos, símbolo dos discípulos e discípulas que buscam o Senhor, vão a Jerusalém ao encontro do Menino Jesus a quem oferecem seus dons, símbolos da própria vida. Aquele que procuravam parece querer fazer-se conhecer, Deus quer ser encontrado.

Deus tem um projeto de salvação para oferecer ao seu Povo, a toda humanidade. Cristo é a revelação e a realização plena desse projeto que não se destina apenas a Jerusalém ou a um determinado povo, mas é para ser oferecido a todos os povos, sem exceção. O Menino encontrado envolvido em um pano, na condição de humildade e simplicidade é o Filho de Deus, é Jesus o enviado de Deus Pai, que vem oferecer a salvação de Deus aos homens de toda a terra.

O relato da visita dos Magos ao Menino Jesus reflete a condição daqueles que adoram Jesus e por outro lado daqueles que rejeitam Jesus: o Povo de Israel rejeita Jesus, enquanto que os Magos do oriente (que são pagãos) O adoram; Herodes e Jerusalém ficam perturbados diante da notícia do nascimento do menino e planejam a sua morte, enquanto que os pagãos sentem uma grande alegria e reconhecem em Jesus o seu salvador: “O julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más. Quem pratica o mal, tem ódio da luz, e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam desmascaradas. Mas, quem age conforme à verdade, se aproxima da luz, para que suas ações sejam vistas, porque são feitas como Deus quer” (Jo 3,19-21). A salvação rejeitada pelos habitantes de Jerusalém torna-se agora um dom que Deus oferece a todos os homens, sem exceção. O caminho percorrido pelos Magos reflete a caminhada que os cristãos fazem para encontrar-se com Jesus: estão atentos aos sinais (estrela), percebem que Jesus é a luz que traz a salvação, põem-se decididamente a caminho para O encontrar, perguntam às Escrituras o que fazer, encontram Jesus e adoram-n’O como “o Senhor”.

Para encontrar-se com o Senhor é preciso, a exemplo dos Magos, desinstalar-se. Os Magos viram a estrela, deixaram tudo, arriscaram tudo e vieram procurar Jesus. Somos capazes da mesma atitude de desinstalação, ou estamos demasiado agarrados ao nosso sofá, ao nosso colchão, à nossa televisão, aos nossos bens materiais, ao nosso computador e celular? Somos capazes de deixar tudo para responder aos apelos que Jesus nos faz através dos Seus sinais?

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