Futuro beato carioca

Missionários da CN testemunham santidade de Guido Schäffer

Da vida de Guido Schäffer brotam os testemunhos sobre o surfista carioca e médico que buscou ser santo nas coisas simples

André Cunha
Da redação

Suas virtudes estão na boca de todos que com ele conviveram. Um jovem atencioso, preocupado com as pessoas, sedento de santidade, simples (apesar de culto), caridoso com os pobres, generoso com os doentes… É assim que alguns missionários da Canção Nova, que dividiram momentos com Guido Schäffer, testemunham a seu respeito.

Seu processo de beatificação será aberto às 18h deste sábado, 17, na Basílica Imaculada Conceição, em Botafogo. A primeira fase do processo será em âmbito arquidiocesano, quando receberá o título de Servo de Deus.

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A Arquidiocese do Rio de Janeiro iniciará o processo de beatificação de Guido Schäffer neste sábado, 17 / Foto: surfertoday.com

Em 2003, o jovem formado em Medicina na Faculdade Técnica Educacional Souza Marques (1993 a 1998), no Rio de Janeiro, prestou serviço voluntário no Posto Médico Padre Pio – uma das obras sociais da Canção Nova que atende moradores da cidade de Cachoeira Paulista e parte do Vale do Paraíba, São Paulo.

“Era muito bom com o paciente, muito caridoso, humano. Ele tinha um tempo para o paciente, um cuidado, um carinho. Em tudo via a ação de Deus. Vivia muito a espiritualidade e o que ele aprendia de Deus, colocava em prática. Isso, conosco, com os amigos e com os pacientes”, relatou a Dra. Roseli de Oliveira, que até hoje presta serviço no Posto Médico e conviveu com Guido na época.

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Ele estava na Canção Nova em todas as “Quintas-feiras de Adoração” para atender os pacientes e membros da comunidade. Um dos atendimentos tornou-se especial e foi o início da amizade com a missionária Simone Nunes.

Ela conta que a princípio tratava-se apenas de uma consulta médica, mas após o encontro nasceu uma profunda admiração pelo médico que preocupava-se com o paciente de forma integral.

“Ele me chamou a atenção porque estava com a Liturgia das Horas em cima da mesa. Foi meu primeiro contato. Nele eu vi que dentro do consultório não apenas atendia o físico, mas já tinha um cuidado especial com a alma, inclusive conosco, missionários que já estávamos dentro da Comunidade”, relatou.

Missionárias da Canção Nova testemunham santidade de Guido, surfista carioca, candidato aos altares / Foto: Arquivo pessoal

Missionárias da Canção Nova testemunham santidade de Guido. Na ordem: Dra. Roseli de Oliveira, Simone Nunes e Simone Cavazzani / Fotos: Arquivo pessoal

A convite de Simone, Guido fez palestras para jovens em encontros PHN (Por Hoje Não vou mais pecar) na cidade de Lavrinhas (SP), uma das casas de formação inicial da Comunidade Canção Nova. A missionária testemunha os benefícios das palavras do jovem médico:

“A pregação dele nos apontava o céu. Foi uma referência de jovem para falar aos jovens. Em tudo, colocava a necessidade de ser santo. O que mais me chamava a atenção era sua serenidade no falar, no olhar”.

A vocação de Guido

Em 2005, por sugestão do Monsenhor Jonas Abib, fundador da Canção Nova, Guido residiu por alguns meses em Queluz (SP) para melhor discernir sua vocação. Ele sentia vontade de realizar muitas coisas: queria ser sacerdote, fundar uma comunidade de vida a exemplo da Canção Nova e também queria estudar no seminário ligado a esta comunidade.

Já em Queluz, morou na casa de um casal amigo da Canção Nova. Neste período, quem o acompanhou e ajudou no processo de discernimento vocacional foi a missionária Simone Cavazzani, membro da comunidade católica.

Guido, já seminarista da Arquidiocese do Rio / Foto: Arquivo pessoal

Guido, já seminarista da Arquidiocese do Rio / Foto: Arquivo pessoal

Segundo ela, Guido era uma “pessoa especial”, que transmitia Deus no olhar, nas palavras, nos gestos. “Bastava olhar para ele e percebia-se algo diferente. Era muito sensível, acolhedor, era uma pessoa muito humana”.

Como vocacionado, diz Simone, não era diferente. “Tinha um desejo muito grande de santidade, que transbordava para além dele. O ambiente em que ele estava era contagiado por esta santidade que ele trazia. Uma pessoa extremamente dócil. Posso dizer porque o acompanhei nesse tempo de discernimento. Percebia uma prontidão para aquilo que era pedido. Era alguém muito aberto. Tinha uma liberdade interior muito grande”.

Cavazzani afirma que Guido nunca quis desistir da vocação. Ao contrário, era disciplinado, consciente e seguro de quem era e para que existia. “Sabia que Deus tinha lhe dado uma missão e queria perseguir a vontade e os desígnios de Deus até o fim”.

Perguntada sobre o que Guido ensinou-lhe de mais valioso, ela respondeu: “ensinou-me a simplicidade. Apesar da formação acadêmica e da cultura geral muito boa que tinha, ele era muito simples. Ensinou-me também a ter um amor muito grande a Deus e a Sua Palavra”.

A vida de oração do jovem Guido também chamou a atenção de quem o acompanhou de perto. A missionária destaca que aprendeu a rezar a Liturgia da Horas com ele, visto que o fazia todos os dias. “Quando Guido rezava a Liturgia das Horas, tinha realmente uma experiência de céu. Ele não simplesmente rezava, mas meditava. Parecia que a Palavra de Deus se encarnava naquele momento!”.

Sobre seu processo de beatificação, Simone foi categórica ao afirmar: “não me surpreendi!. Me surpreendi muito mais com a morte dele porque foi muito doloroso perdê-lo. Mas quando ele faleceu, estava certa de que tínhamos um santo no céu. Para mim, Guido é um santo, independente de a Igreja declará-lo ou não. Foi um homem que se santificou vivendo aquilo que Deus lhe pediu”.

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